sobre a morte de Eduardo Campos
Em janeiro deste ano, o cinegrafista da rede
Bandeirantes, Santigo Andrade, morreu em um protesto no Rio. Santiago foi
atingido, acidentalmente, por um fogo de artifício lançado por manifestantes
contra os policiais. Os jovens Caio e Fábio estão presos, desde então, acusados
de assassinarem (intencionalmente) o cinegrafista. Os policiais responsáveis
pelas mortes nos protestos de junho, esses obviamente seguem soltos.
A morte de Santiago Andrade foi exaustivamente
utilizada pelos monopólios de comunicação, em particular pela rede Globo, com o
objetivo de criminalizar e esvaziar os protestos contra a Copa. A morte do
ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, de maneira semelhante, está sendo
explorada pelos monopólios, agora, com o intuito de aumentar a participação do povo nas eleições.
Depois de junho, "nunca antes na história
desse país" o boicote eleitoral ameaçou tanto as eleições farsantes,
legitimadoras dessa falsa democracia burguesa. Depois do espectro do “não vai ter
copa”, é o fantasma do “não vai ter voto” quem mais amedronta as classes
dominantes. As próprias pesquisas manipuladas por seus institutos apontam assustadores
índices de abstenção e votos nulos e brancos. Curiosamente, a rejeição ao
processo eleitoral cresce na mesma proporção dos altíssimos gastos de
campanha, nunca um voto custou tão caro no Brasil.
A campanha do TSE conclamando os jovens a irem
para as urnas já está derrotada pelo índice recorde de adolescentes de 16 e 17 anos que não
tiraram o título para votar esse ano. A rebelião da juventude acontece como fenômeno
mundial, agora mesmo, assistimos o levantamento combativo dos jovens negros nos
EUA, cenas parecidas com as do Rio de Janeiro. Para as classes dominantes
desviar essa energia revolucionária para a farsa eleitoral é fundamental.
A comoção criada em torno de uma morte trágica,
"de um jovem político, pai de 5 filhos", está sendo habilmente
manipulada para romper a apatia com o processo eleitoral. O mesmo Wiliam Boner,
que na noite anterior ao acidente em Santos, havia acusado Campos de nepotismo,
na noite seguinte, se derretia em elogios ao político pernambucano. Mais uma
morte comemorada nos bastidores dos monopólios de comunicação.
Transcorrendo normalmente as atuais eleições,
Eduardo Campos dificilmente ultrapassaria os 15% dos chamados votos válidos e
muito provavelmente amargaria a derrota de seu candidato, Paulo Câmara, para a
sua sucessão no governo do estado. Segundo a última pesquisa do Ibope, mesmo em
Pernambuco, Campos perdia em votos para Dilma, que o ultrapassava em
significativos 10%. Com os últimos acontecimentos, certamente o pleito será
decidido em um segundo turno e, possivelmente, diminuirá os índices de boicote.
Tanto para os que almejam dar mais legitimidade a esse processo farsante, como
para aqueles que aspiram assumir o lugar do PT no velho Estado, Eduardo Campos
vale mais morto do que vivo.
Ao povo, não interessa muito esses cálculos.
Nessas eleições ganhe quem ganhar as massas só têm a perder. Entendemos a
comoção dos brasileiros, em especial dos pernambucanos, com a morte de Campos.
Essa comoção existe independente da manipulação dos monopólios que, na verdade,
procuram é direciona-la. O povo é solidário, se emociona com a tragédia dos
acidentes. Em sua vida de desengano, de expectativas frustradas, as pessoas
tendem a acreditar que a sua última esperança estaria naquele que morreu. Assim
aconteceu na morte de Tancredo Neves, de Ulisses Guimarães, no suicídio de
Getúlio Vargas. É a fantasia de uma esperança que se torna mais forte com a
ausência do que com a presença. Os mortos não erram mais, por isso Campos
permanecerá no inconsciente coletivo, por certo tempo, como aquilo que poderia
ter sido e não pelo que de fato foi. Só as futuras lutas revolucionárias
poderão erguer novos mitos coletivos que destronem os ícones do passado.
Não temos o que dizer da vida pessoal de
Eduardo Campos, não o conhecemos neste ambiente. O que podemos falar é do político,
do governador que reprimiu violentamente a juventude em luta pelo passe livre e
como candidato teve a cara de pau de prometer esta bandeira aos estudantes de
todo o Brasil. Muitos secundaristas foram presos, um universitário foi parar no
presídio, sua PM impediu os manifestantes de pisarem na rua no último 7 de
setembro, antecipando o resgate da tática nazista do "envelopamento"
adotada pelas PMs de SP, RJ e MG durante a Copa.
Conhecemos o governador que removeu centenas de
famílias para as obras da Fifa, que bancou a construção de um luxuoso estádio
de futebol numa cidade onde já existiam três. Um governador que proibiu a
organização de grêmios estudantis nas escolas e cancelava as aulas sempre que
havia manifestação pelo passe livre. Fascismo.
Esse é o político apresentado agora como inovador, como símbolo da
renovação na política brasileira. Renovação dos quadros da reação, apenas.
Marina Silva, também, é apresentada como a nova
política e parte da juventude de junho ainda alimenta está ilusão. Por debaixo
do discurso ambientalista há muita água podre. Só o fato de ter assumido a vice
de Eduardo é indicativo disso. Marina foi ministra de Lula, saiu de seu governo
porque foi preterida para que Dilma fosse a candidata a sucessão. Aparenta um
discurso inovador, mas é extremamente conservadora, é contra a
descriminalização do aborto e o casamento homoafetivo. Sempre defendeu, dentro
do PT, a aliança com o PSDB, dobradinha que foi costurada e colocada em prática
por ela no Acre, seu estado de origem. Marina, também, é farinha do mesmo saco.
Nos solidarizamos com os sentimentos de
tristeza de nosso povo, mas denunciamos a manipulação das mortes feita pelos monopólios de comunicação, por agremiações políticas, marqueteiros e candidatos que querem aproveitar-se da tragédia seviciam-se dos corpos para auferir votos e vantagens pessoais na farsa eleitoral. Não depositamos expectativas de que Marina Silva ou qualquer outro candidato nesse pleito. Nossa esperança está na luta, na construção da revolução que o
nosso país precisa.
Quem Foi Pras Ruas, Não Vai Pras Urnas! Viva a Revolução!
Não Vote, Lute Pela Revolução!
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