quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Nota da Frente Independente Popular - PE sobre a morte de Eduardo Campos


sobre a morte de Eduardo Campos


Em janeiro deste ano, o cinegrafista da rede Bandeirantes, Santigo Andrade, morreu em um protesto no Rio. Santiago foi atingido, acidentalmente, por um fogo de artifício lançado por manifestantes contra os policiais. Os jovens Caio e Fábio estão presos, desde então, acusados de assassinarem (intencionalmente) o cinegrafista. Os policiais responsáveis pelas mortes nos protestos de junho, esses obviamente seguem soltos.

A morte de Santiago Andrade foi exaustivamente utilizada pelos monopólios de comunicação, em particular pela rede Globo, com o objetivo de criminalizar e esvaziar os protestos contra a Copa. A morte do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, de maneira semelhante, está sendo explorada pelos monopólios, agora, com o intuito de aumentar a participação do povo nas eleições.

Depois de junho, "nunca antes na história desse país" o boicote eleitoral ameaçou tanto as eleições farsantes, legitimadoras dessa falsa democracia burguesa. Depois do espectro do “não vai ter copa”, é o fantasma do “não vai ter voto” quem mais amedronta as classes dominantes. As próprias pesquisas manipuladas por seus institutos apontam assustadores índices de abstenção e votos nulos e brancos. Curiosamente, a rejeição ao processo eleitoral cresce na mesma proporção dos altíssimos gastos de campanha, nunca um voto custou tão caro no Brasil.

A campanha do TSE conclamando os jovens a irem para as urnas já está derrotada pelo índice recorde de adolescentes de 16 e 17 anos que não tiraram o título para votar esse ano. A rebelião da juventude acontece como fenômeno mundial, agora mesmo, assistimos o levantamento combativo dos jovens negros nos EUA, cenas parecidas com as do Rio de Janeiro. Para as classes dominantes desviar essa energia revolucionária para a farsa eleitoral é fundamental.

A comoção criada em torno de uma morte trágica, "de um jovem político, pai de 5 filhos", está sendo habilmente manipulada para romper a apatia com o processo eleitoral. O mesmo Wiliam Boner, que na noite anterior ao acidente em Santos, havia acusado Campos de nepotismo, na noite seguinte, se derretia em elogios ao político pernambucano. Mais uma morte comemorada nos bastidores dos monopólios de comunicação.

Transcorrendo normalmente as atuais eleições, Eduardo Campos dificilmente ultrapassaria os 15% dos chamados votos válidos e muito provavelmente amargaria a derrota de seu candidato, Paulo Câmara, para a sua sucessão no governo do estado. Segundo a última pesquisa do Ibope, mesmo em Pernambuco, Campos perdia em votos para Dilma, que o ultrapassava em significativos 10%. Com os últimos acontecimentos, certamente o pleito será decidido em um segundo turno e, possivelmente, diminuirá os índices de boicote. Tanto para os que almejam dar mais legitimidade a esse processo farsante, como para aqueles que aspiram assumir o lugar do PT no velho Estado, Eduardo Campos vale mais morto do que vivo.

Ao povo, não interessa muito esses cálculos. Nessas eleições ganhe quem ganhar as massas só têm a perder. Entendemos a comoção dos brasileiros, em especial dos pernambucanos, com a morte de Campos. Essa comoção existe independente da manipulação dos monopólios que, na verdade, procuram é direciona-la. O povo é solidário, se emociona com a tragédia dos acidentes. Em sua vida de desengano, de expectativas frustradas, as pessoas tendem a acreditar que a sua última esperança estaria naquele que morreu. Assim aconteceu na morte de Tancredo Neves, de Ulisses Guimarães, no suicídio de Getúlio Vargas. É a fantasia de uma esperança que se torna mais forte com a ausência do que com a presença. Os mortos não erram mais, por isso Campos permanecerá no inconsciente coletivo, por certo tempo, como aquilo que poderia ter sido e não pelo que de fato foi. Só as futuras lutas revolucionárias poderão erguer novos mitos coletivos que destronem os ícones do passado.

Não temos o que dizer da vida pessoal de Eduardo Campos, não o conhecemos neste ambiente. O que podemos falar é do político, do governador que reprimiu violentamente a juventude em luta pelo passe livre e como candidato teve a cara de pau de prometer esta bandeira aos estudantes de todo o Brasil. Muitos secundaristas foram presos, um universitário foi parar no presídio, sua PM impediu os manifestantes de pisarem na rua no último 7 de setembro, antecipando o resgate da tática nazista do "envelopamento" adotada pelas PMs de SP, RJ e MG durante a Copa.

Conhecemos o governador que removeu centenas de famílias para as obras da Fifa, que bancou a construção de um luxuoso estádio de futebol numa cidade onde já existiam três. Um governador que proibiu a organização de grêmios estudantis nas escolas e cancelava as aulas sempre que havia manifestação pelo passe livre. Fascismo.  Esse é o político apresentado agora como inovador, como símbolo da renovação na política brasileira. Renovação dos quadros da reação, apenas.

Marina Silva, também, é apresentada como a nova política e parte da juventude de junho ainda alimenta está ilusão. Por debaixo do discurso ambientalista há muita água podre. Só o fato de ter assumido a vice de Eduardo é indicativo disso. Marina foi ministra de Lula, saiu de seu governo porque foi preterida para que Dilma fosse a candidata a sucessão. Aparenta um discurso inovador, mas é extremamente conservadora, é contra a descriminalização do aborto e o casamento homoafetivo. Sempre defendeu, dentro do PT, a aliança com o PSDB, dobradinha que foi costurada e colocada em prática por ela no Acre, seu estado de origem. Marina, também, é farinha do mesmo saco.


Nos solidarizamos com os sentimentos de tristeza de nosso povo, mas denunciamos a manipulação das mortes feita pelos monopólios de comunicação, por agremiações políticas, marqueteiros e candidatos que querem aproveitar-se da tragédia seviciam-se dos corpos para auferir votos e vantagens pessoais na farsa eleitoral. Não depositamos expectativas de que Marina Silva ou qualquer outro candidato nesse pleito. Nossa esperança está na luta, na construção da revolução que o nosso país precisa.

Quem Foi Pras Ruas, Não Vai Pras Urnas! Viva a Revolução!
Não Vote, Lute Pela Revolução!

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