sábado, 8 de março de 2014

Carta aberta das militantes da FIP sobre o 8 de março.





Armadas com coragem pra enfrentar o patriarcado!



Dezessete de fevereiro de dois mil e quatorze, o machismo faz mais duas vítimas: Sandra Lúcia, Professora, 40 anos, e seu filho Icauã de 9 anos. Foi Sandra, poderia ter sido qualquer uma de nós. São, todos os dias, mulheres mortas no campo e na cidade, vítimas de seus algozes maridos, irmãos, filhos, pais. Estupros, abortos clandestinos, assédios morais, físicos e psicológicos no trabalho, no ônibus, em casa, na rua. Há o que comemorarmos?




O Brasil ocupa a 7ª posição na listagem dos países com maior número de homicídios femininos*. Segundo dados do IPEA (2013)*, ao avaliar o impacto da Lei Maria da Penha sobre a mortalidade de mulheres por agressões, por meio de estudo de séries temporais, constatou-se que não houve redução das taxas anuais de mortalidade.

A criminalização do aborto no Brasil, além de deixar latentes as rachaduras na nossa laicidade, mata a cada dois dias uma mulher pobre, vítimas de abortos mal sucedidos, da completa, covarde e inadmissível omissão do Estado brasileiro, e da grave violação dos direitos da mulher.


Ainda recebemos menos no mercado de trabalho executando as mesmas funções (Segundo pesquisas, as mulheres têm em média mais anos de estudo que os homens). Ainda fazemos dupla jornada. Ainda somos condenadas a papel de mãe/esposa/dona de casa. Ainda culpam a nós e nossas roupas em vez de culpar o estuprador. Ainda acham que somos alvos fáceis quando bebemos. Ainda nos tratam como mercadorias nos comerciais, ignorando nossas diferenças, e fingindo simplesmente não existir mulheres negras e trans. Ainda acham que uma “piada”, mesmo cruelmente opressora sobre nosso gênero, é só uma dose de humor. Nossos corpos e opiniões ainda são perseguidos pelas religiões: padres, pastores e rabinos que insistem em nos macular e nos expor uma velha moral que precisa e será derrubada!

Se os membros da FIP-PE tem motivos para gritar NÃO VAI TER COPA, as mulheres praieras tem motivos dobrados: Esse megaevento privado, símbolo do imperialismo, insiste em usar nossos corpos, a nos exibir como objetos de consumo. O Estado brasileiro fazendo questão de manter a fama de país do futebol e do sexo fácil, propagandeia a prostituição, sendo financiado, inclusive, por patrocinadores como a Adidas, que claramente expõe em seus produtos e mídias o Brasil de pernas e portas abertas para o turismo sexual.   


No nosso Estado a repressão policial é triplicada às militantes femininas, onde somos assediadas e agredidas inúmeras vezes, com o objetivo de nos provocar e humilhar. Também em Pernambuco, o então secretário de defesa social Wilson Damázio provou as nossas denúncias ao dar entrevista alegando que as mulheres que foram estupradas por PM sofreram a violência por terem “se insinuado ao não resistirem em um homem fardado”. Nada, além de mais e mais atentados às pessoas e principalmente às mulheres, podemos esperar de um governo que tem como secretário um homem violento e claramente machista. O governador Eduardo Campos não tomou qualquer atitude, ou fez qualquer pronunciamento sobre o caso. O afastamento do secretario foi de iniciativa do próprio para defesa do presidenciável.

Recentemente, o secretário de Patrimônio e Cultura de Olinda, Lucilo Varejão, declarou aos jornais que durante o carnaval, nós, mulheres, também somos atrações turísticas. As palavras do secretário, mais uma vez, feriram de morte cada uma de nós, que diariamente lutamos contra a mercantilização do nossos corpos, e só nos comprovou, mais uma vez, que a grande mídia e o Estado são tentáculos da misoginia e do machismo arraigados nessa sociedade, e que devem ser combatidos de frente! Nosso corpo não é objeto ou produto a ser vendido! 


Compreendemos, dessa forma, que o machismo é um braço forte e violento do sistema capitalista, e só, e somente só, numa sociedade emancipada, livre de todas as opressões, que poderemos ter autonomia sobre nossos corpos e nossas vidas. Sem patrão, nem machão! Somente unidas as mulheres podem romper com os grilhões da moral burguesa e dar adeus, definitivamente, ao patriarcado opressor e assassino!

Por esses e todos os outros motivos, estamos aqui pra gritar: 08 de março não é dia de festa! Não queremos suas flores! Exigimos respeito!


Somos mulheres e não mercadoria!
08 de março é luta!
Revolucionar é preciso!
Viva à luta feminista!
Viva à luta popular!

Nenhum comentário:

Postar um comentário